segunda-feira, março 06, 2006

Rosa branca..

Tenho passado por ele várias vezes e a curiosidade sobre a sua pessoa tem crescido em mim. Quem será aquele senhor que todos os dias à mesma hora está sentado, no quarto banco castanho do jardim com uma rosa branca a seu lado.
Tem um olhar triste e distante de tudo ao seu redor, parece esperar por alguém que nunca vi aparecer.Observo-o de longe para não perturbar o seu espaço, o seu cabelo é branquinho como a neve e dança com o passar da brisa desta tarde de verão, os seus olhos são um pouco escuros talvez azuis esverdeados não consigo ver bem a cor daqui, tem as mãos sobre a bengala está e vestido de azul. Reparo que o banco onde se senta é o melhor para apreciar pôr do sol. Vejo a maneira como ele aprecia a beleza do sol a descer. Neste parque o pôr do sol é especial por estar perto do mar, permite-nos vê-lo esconder-se lá ao fundo. E hoje parece-me especialmente, bonito e diferente, talvez pelo rosa forte, pelo azul escuro a quer fazer-se notar, pelas estrelas a aparecerem aqui e ali, e talvez porque o senhor sentado no banco se esforça para não chorar, embora em vão porque vejo escorrer-lhe algumas lágrimas pelo canto dos olhos. É estranho ver o senhor chorar, não associo aos senhores o choro, mas este chora em silêncio e agora sem resistência. Gostava de saber a sua história afinal todos nós temos uma não é?
O sol já se foi, vejo-o pegar na Bengala, na rosa branca e num papel, olhar para mim como já o fizera algumas vezes e ao contrário dos outros dias caminha na minha direcção, será que percebeu que o tenho observado? Não, tenho sido bastante discreta, mas a verdade é que o senhor continua a caminhar na minha direcção, apetece-me fugir dali, mas algo me diz para ficar, para esperar um pouco.
O senhor está parado à minha frente endireita a postura e fixa-me nos olhos, e diz: “Abel, o meu nome é Abel e choro um amor impossível de há muito. A Bianca partiu há três anos e hoje resolvi deixa-la ir, dar-lhe descanso, paz, e estou certo que mais tarde ou mais cedo me juntarei a ela.” Disse-me com uma voz doce embora forte e decidida. Os seus olhos eram de um azul esverdeado tão escuro e lindo, estavam só um pouco inchados pelo choro, mas nem por isso perdiam a beleza. Era bem mais alto do que me parecia inicialmente, deveria ter sido muito bonito quando jovem. “Tenho admirado a tua paciência ao vires também á mesma hora para aqui apreciares o por do sol e veres-me estar junto da Bianca. És uma sonhadora, mas continua assim o amor existe hà que procura-lo. Não vês o nosso? É preciso haver mais sonhadores como nós neste mundo, tão perdido de pesadelos. Toma é para ti.” E sem querer saber o meu nome, ou deixar-me fazer alguma pergunta retoma o caminho no sentido contrário ao meu e deixa-me ali com aquele envelope antigo e a rosa branca.

“ Nas tuas mãos terás meu coração, sei que o cuidarás como ninguém. Não terei medo em perder-me nos teus braço. Sei que te pertenço desde o primeiro pôr do sol no jardim, naquele doce fim de tarde de Verão. A primeira rosa branca continua guardada na caixinha junto das cartas que me tens enviado. Quero dizer-te que aceito, Aceito casar-me contigo.
... Amo-te Abel... muito!
Bianca Albufeira”



É certo que isto parte da minha imaginação mas porque razão não poderia ter acontecido.

6 comentários:

Anônimo disse...

Poix migah...já aconteçeu :S...e é mto triste saber que amamos alguém e esse alguém seja levado pela morte :(! Acho que não há pior sofrimento que esse!Faz me lembrar " As Palavras que nunca te direi" :(! jA custa tanto encontrar o verdadeiro amor....perdelo dessa maneira...acho q n aguentava tal dor!=(...bjos doces***********

booksandnoises disse...

«É certo que isto parte da minha imaginação mas porque razão não poderia ter acontecido?»

E tens noção que existem muitas histórias de um 'amor' tão ou mais intenso que esse que acabaste de contar? Quem sabe se não existe mesmo um velhote que repita o mesmo ritual ao longo dos dias, que percorra o mesmo caminho, que continue ainda a pensar, depois de tudo, só nela. E a ideia do bilhete...gostei muito! Estiveste bem...! Parabéns. :)

Mais uma vez, não pares. Quero continuar a ler-te.

Cynath disse...

«É certo que isto parte da minha imaginação mas porque razão não poderia ter acontecido?»

Como já uma vez disse no meu journal, sendo um universo infinito provavelmente já aconteceu! E especial é a pessoa que o consegue relatar e nem sequer o presenciou...

Anônimo disse...

Gostei muito. Agradeço a tua visita no meu cantinho e o comentário. :) Vou voltar a visitar estes instantes.

Ana Margarida Cinza disse...

um blog leva sempre a outro blog e a outro e a outro...Li alguns dos teus posts mas este foi o que mais me tocou na emotividade...

A maneira como escreves, tao pura e simples, tao perfeitamente fácil de entender, faz com que tenhas um toa grande numero de comentarios e admiradores :) Gostei de ler, é bom ler coisas de pessoas que sentem..e se tu inventas isto, é porque sentes!!

Parabéns! ;)
Cumprimentos bloguistas

Anônimo disse...

E para quando o livro? É esta a pergunta que se impõe, aqui os 'comentadores' estão à espera de ver nas bancadas das grandes livrarias a capa do teu livro e a tua fotografia ao lado. Tens que pensar nisso, porque nunca é tarde nem cedo para tal.
O post ta lindíssimo tal como os otros. Imaginação ou não faz-nos transpor para a realidade, pois por mais tristes que sejam as histórias de amor, estas não deixam de ser bonitas.